Moçambola não é ilegal?
A FIFA decidiu, a CAF tramitou e nós não estamos a conseguir cumprir. O que está em causa é o licenciamento dos clubes, mediante determinadas exigências, para tomarem parte nas provas da primeira linha competitiva nacional e as que dão acesso às provas internacionais.
A orientação “já tem barbas”, vem do início do mandato de Faizal Sidat e está a arrastar-se pelo de Simango Júnior. O organismo máximo do futebol mundial quer “separar o trigo do joio”. Profissionalismo tem regras, alta competição tem exigências. E que são...
- Projecto sustentado para o desenvolvimento dos jovens;
- Promoção do fair-play;
- Cumprimento de princípios mínimos de segurança nos campos e conforto para os adeptos;
- Respeito pelas normas internacionais;
- Existência de uma auditoria independente às finanças de clubes;
- Integração de treinadores e médicos profissionais qualificados.
Obrigação ou sugestão?
De lá para cá, no nosso país, criou-se uma Comissão para o Licenciamento. E o que ela tem feito? A única coisa que os seus “galões” permitem: apelar, apelar, apelar! Até quando?
O Moçambola já é um dado adquirido, está em marcha, misturando clubes licenciados e por se licenciar. É, na realidade, uma prova ilegal, uma vez que nem todos – neste caso a maioria – preenchem os requisitos de participação. À pergunta sobre se as restantes colectividades vão ou não ultrapassar a ilegalidade, a resposta é... “Sim”. Não há coragem para dizer que não há e que, em muitos casos, nem vai haver condições para a resolução do problema. Em que ficamos? Não tarda muito que a FIFA recorra a medidas gravosas, tais como corte do subsídio ao nosso futebol e o progressivo impedimento da presença moçambicana em provas no continente e no Mundo. Os prazos, a condescendência, têm limites, sob pena de se “passar por cima” de uma orientação que está a ser confundida com uma sugestão.
Dias antes do arranque do Moçambola, o presidente da Liga Moçambicana de Futebol, Ananias Couana, afirmava que aos clubes não licenciados não seria permitida a participação. Mas acabou fazendo-se “vista grossa”, apenas os Ferroviários da Beira e de Maputo, mais a Liga Desportiva estão licenciados.
O cerne da questão
Resta agora acrescentar novos prazos aos sucessivos prazos-limite já anunciados. As questões de fundo foram sendo secundarizadas e elas não são poucas. Um superficial “peneirar”, sem ser exaustivo, demonstra que...
- Há um clube no Moçambola que, até há pouco tempo, nem conta bancária possuía (tudo era tramitado através da conta do presidente), quando o que se exige, é uma contabilidade organizada e contas auditadas;
- Associação Despotiva de Macuácua, 1.o de Maio de Quelimane, UP do Niassa e Maxaquene vão jogar em casa alugada, quando a exigência é de garantir campo e sede, também para a formação das camadas jovens;
- Sobre a comodidade dos espectadores, as pedradas de Nacala dizem tudo;
- De médicos e treinadores formados, na maioria não reza a história. Há um massagista com uma garrafa de água e um balde de gelo, pronto a servir...
O que nos falta? Realismo. No Moçambola, quando o bom-senso aconselhava a redução de 14 para 12 equipas, ou mesmo 10, alargou-se o leque e os resultados estão à vista: “mataram-se” os provinciais, a movimentação das camadas jovens até exige decreto. São megalomanias à mistura com “copy-e-paste” das realidades de sociedades mais avançadas.
O que fazer? Simplesmente ter a humildade de dar um passo atrás e repensar modelos que nos permitam a médio prazo dar dois em frente.
Fonte:Opais