Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

centro de documentação e informação desportiva de moçambique

Este blog tem como objectivo difundir a documentação de carácter desportivo

centro de documentação e informação desportiva de moçambique

Este blog tem como objectivo difundir a documentação de carácter desportivo

Guarda-redes: título frangueiro está sempre... no fio da navalha!

GURDA REDES.jpg

 

Numa equipa de futebol, encontram-se desculpas para todos, menos para os guarda-redes. Os avançados, por que a bola bateu na trave; os médios por falta de visão de jogo; os defesas por má colocação no terreno... Mas os guarda-redes, por ocuparem um posto-chave, vivem “no fio da navalha”, pelo que não lhes é permitida qualquer falha, sob pena de serem chamados de “frangueiros”.

Entre nós, da Independência para cá, vivemos períodos áureos no que a guarda-redes diz respeito. Vamos recordar alguns nomes: Nuro Americano, José Luís, Filipe Chissequere, Isaías, Rafael, Ahmed, Nelito, Napoleão, Basílio, Antoninho, Luisinho, Kampango, Rui Évora, Sérgio, Betinho...

Escolhemos quatro, autênticos símbolos, e vamos explanar um pouco das suas carreiras e características.
 

José Luís: o Zé Gato!


Entre os postes tinha reflexos rápidos, que lhe permitiam sair do solo quase sem pedir licença ao corpo, com capacidade para voar para qualquer dos lados. Isso valeu-lhe a alcunha de “Zé Gato”. Mas era fora dos postes, com os  punhos, que impunha as suas leis. Nos cruzamentos, a área de rigor era sua. E ai do avançado que se fizesse à bola, sem primeiro calcular as distâncias...

Em 1980, na Bulgária e com a Selecção, estava no auge. Os búlgaros queriam que ficasse no CSKA. O “fecho de fronteiras” de então, não permitia que pensasse sequer na proposta. Continuou por cá a brilhar, sendo pedra basilar do Textáfrica e das Selecções Provincial e Nacional. Destemido, cortava muitas jogadas a soco ou a pontapé, aumentando o astral dos colegas.

FINAL INFELIZ


A certa altura, adoeceu. Um problema pulmonar começou a apoquentá-lo. Numa operação em Moçambique, foram-lhe retiradas porções de sangue e gorduras dos pulmões. Ficou fraquíssimo, tinha até dificuldades em caminhar. Foi enviado para Portugal, para tratamentos complementares. Regressou, mas com indicações para tratamentos ambulatórios, até a recuperação total.

Porém... quando se começou a sentir melhor, o “bichinho” do futebol e as pressões, impeliram-no a voltar aos postes. E como não se conformava em ver o seu querido Textáfrica a perder, regressou aos relvados, ainda debilitado. Foi essa decisão que apressou a sua morte.
Realizou pela Selecção 15 jogos, com 21 tentos sofridos


Nuro Americano:  com defesas de sonho!


Em centenas de tardes, voou em direcção ao esférico, para gáudio dos adeptos. A forma como Nuro Americano saía ao encontro dos avançados, mesmo quando isolados, causou-lhe alguns amargos de boca, tendo contraído várias lesões, a mais grave das quais no ombro, que o obrigou a deslocar-se a Portugal, onde foi operado pelo Dr. Camacho Vieira. No regresso, provou que as suas qualidades continuavam intactas.

VALENTIA E ELASTICIDADE


Dotado de qualidades natas invulgares para o lugar de guarda-redes, trabalhava “fora das horas”, para se manter em forma. E se conseguia transmitir segurança entre os postes, fora deles é onde mais evidenciava as suas qualidades: valentia, elasticidade, decisão e segurança.

Cedo, com tenra idade, no Norte do País, Nuro Americano foi-se salientando. Ainda júnior, despertou o interesse do Benfica de Lisboa para onde seguiu, sem grandes parangonas. Terá sido um salto demasiado grande, a que se juntou a acção do frio e da chuva. O sonho durou pouco tempo, pelo que se decidiu pelo regresso.

Por cá, deu nas vistas na Académica e 1º de Maio, mas desde que passou para o Maxaquene, este clube passou a ser ‘’a menina dos seus olhos’’. Brilhou na defesa dos tricolores e, mais do que isso, na Selecção Nacional. Chegou a Presidente dos maxacas e continua um dos seus mais prestigiados símbolos.

Pela Selecção, sofreu 55 tentos nas 31 partidas em que tomou parte.


Filipe Chissequere:  O gato preto


Foi considerado um dos melhores guarda-redes de todos os tempos em Moçambique, um dia apelidado de "gato preto", devido ao estilo "felino" na abordagem dos lances, apesar da sua estatura e corpo franzinos. Filipe Chissequere, é produto da escola de futebol do Chiveve. O grande guarda-redes já faleceu, mas as suas qualidades permanecem na história do país.

SALTO PARA A CAPITAL


No ano de 1979, em grande forma na Beira, os grandes de Maputo não o deixavam descansar. As notícias eram constantes na imprensa mas, renitente, insistia em permanecer na sua terra, ao lado dos seus pais e amigos.

Em 1981 foi incorporado no serviço militar. Há quem diga que o Matchedje teve que usar esse "truque" para ganhar à concorrência, já que ninguém o conseguia tirar da Beira. Mas o salto acabou sendo o início da glória, pois pouco tempo depois passou a ombrear com os melhores.

Mesmo tendo surgido numa altura em que o país possuía uma forte legião de grandes guarda-redes, Filipe conseguiu-se impor, apesar da inferioridade na compleição física. Por isso, na selecção, teve primeiro que contentar-se com a condição de suplente para depois atacar na hora certa.

A sua estreia aconteceu em 1978, contra a selecção de Cuba. De 84 e 93 tornou-es titular indiscutível da equipa de todos nós. Acabou fazendo 15 jogos em que sofreu 22 golos.


Rui Évora:  “Keeper” elástico


De Nampula para o Costa do Sol e daí para a Selecção, foi um passo. Teve a pesada responsabilidade de suceder aos históricos Nuro Americano, Filipe e José Luís, mas revelou qualidades acima da média, tanto entre como fora dos postes.

Elasticidade, bom tempo de saída e excelente comando de toda a linha defensiva, eram alguns dos seus atributos. Esteve em momentos muito altos da selecção, mormente os CAN.s da África do Sul e de Burkina Fasso, sendo um guarda-redes muito querido de Victor Bondarenko.

Estreou-se pela Selecção em Maputo a 28 de Maio de 1991, no jogo frente ao Sudão e encerrou a carreira a 10 de Fevereiro de 1988 na Taça das Nações (fase Final), enveredando pela carreira de treinador. Tem o recorde de presenças entre os postes na nossa Selecção, com 45 partidas, em que consentiu 53 golos.

 

Por Renato Caldeira

 

Fonte:Opais