Extractos da crónica que escrevemos em Beijing-2008
(…) Ao cortar a meta, Lurdes Mutola era a imagem da fadiga e, sobretudo, da desilusão. Os comissários da pista acolheram-na e conduziram-na para o retiro de uma cadeira, fora do alcance das imagens de umas quenianas exuberantes.
Pamela Jelimo festejava exuberantemente a conquista e a passagem do testemunho como rainha dos 800 metros.
Lurdes, essa, remetia-se, sentada na cadeira que os comissários chineses a haviam servido, na sombra de um conformismo de fazer verter lágrimas. Assim acabava a carreira da mais expressiva atleta de Moçambique, aquela que mais glórias proporcionou ao país: na sombra e sentada numa cadeira. Naquele momento, Lurdes precisava do consolo de uma palmada e um abraço moçambicanos. Uma oficial da IAAF sentiu isso mesmo e dirigiu-se à Lurdes com uma palmada nas costas. Afinal, a moçambicana muito havia feito para engrandecer o atletismo mundial, merecendo, por conseguinte, mais do que uma palmada: uma estátua, à sua medida e dimensão.
Depois da euforia do final da corrida, Lurdes Mutola arrastou-se penosamente para fora do Estádio. Para ela tudo acabara.
Para nós também…
(Almiro Santos, Agosto de 2008)
Fonte:Desafio