Edmilsa, Maria e Hilário campeões mundiais em atletismo paralímpico
Desde que Lurdes Mutola deixou as pistas de atletismo que Moçambique não brilhava em Campeonatos Mundiais de Atletismo ...até que Denise, Edmilsa, Maria e Hilário puseram novamente o nome do nosso país a brilhar a bronze, prata e ouro!
Depois da longa, e tensa, viagem de Maputo para Seul a jovem Edmilsa Luciano Governo, de apenas 17 anos de idade não se deixou intimidar pela concorrência mais experiente e estreou-se em Campeonatos do Mundo de Atletismo conquistando uma medalha de prata, na prova dos 400 metros rasos na categoria T12, para atletas com deficiência visual.
“Foi a minha primeira corrida com guia, cortei a meta do meu jeito mas a russa, mais experiente, esticou-se e meteu a cabeça, ganhou por centésimos”. Edmilsa ficou a 7 décimos do ouro conquistado pela russa Anna Sorokina porém estabeleceu um novo record africano, 58 segundos e 59 décimos. Para trás a moçambicana deixou a mexicana Daniela Maldonado, que foi medalha de bronze nos jogos olímpicos de Londres, e ainda a sua compatriota Maria Elisa Muchavo.
No dia seguinte Edmilsa voltou as pistas do imponente estádio Incheon Munhak e correu a final do 200 metros T12 em 26 segundos e 53 décimos. Ficou a 17 décimos da prata, que a mexicana Maldonado levou, e a 81 décimos do ouro conquistado, novamente, pela russa Sorokina.
Até que no seu terceiro último dia de competição, 15 de Maio, correndo na pista 3 o ouro não lhe fugiu. Correu os 800 metros em 2 minutos 20 segundos e 11 décimos, bem à frente da concorrência. A segunda classificada, a russa Elena Pautova, chegou quase 2 segundos depois e a terceira, a mexicana Ana Gonzalez, 4 segundos mais tarde.
“Foi a prova que mais entrei à vontade, mais calma, com confiança, apesar do desgaste das duas provas anteriores”, confidenciou-nos a jovem atleta que prepara-se para se estrear em Jogos Africanos, que este ano terão lugar em Setembro em Brazaville, no Congo. “São os meus primeiros jogos mas o meu intuito é ganhar duas medalhas de ouro”.
No horizonte de Edmilsa estão os Jogos Paralímpicos do próximo ano no Rio de Janeiro, no Brasil, onde a meta também é o ouro, “não vai ser fácil mas o meu objectivo é esse”.
Desde 2007 Moçambique tem um dispositivo legal, revisto em 2013, para a premiação de treinadores, dirigentes, equipa médica e roupeiros das selecções nacionais que conquistem medalhas ou quebrem recordes nacionais nas modalidades e disciplinas Olímpicas e Paralímpicas.
Perguntamos à Edmilsa Governo se já recebeu alguma premiação nesse âmbito, “nunca, sempre ganhei as minhas medalhas mas nunca tive, para mim as medalhas são suficientes mas eu queria que eles pelo menos olhassem por nós”.
Ouro, ouro e mais três bronzes
A selecção paralímpica de Moçambique levou outros sete atletas aos Campeonatos do Mundo de Atletismo de Seul: Pita Rondão Bulande, Denise Pombo das Dividas, Fernando Lucas Mucuho, Guildo Jose Zacarias, Hilario Xavier Chavela, Kudzanai Mutepa Alberto e Maria Elisa Muchavo.
Hilário conquistou uma outra medalha de ouro para o nosso país, na prova dos 800 metros rasos na categoria T12. O jovem moçambicano competiu ainda na prova dos 400 metros e, na final, classificou-se na quarta posição.
Maria Muchavo arrebatou a terceira medalha de ouro para Moçambique, em Seul, na prova dos 100 metros rasos na categoria T12.
Na bagagem, a nossa selecção paralímpica trouxe ainda mais três medalhas de bronze todas conquistadas por Denise Pombo. Primeiro no salto em comprimento, onde saltou 3 metros e 98 centímetros, atrás de uma atleta do Japão e outra da Rússia. Depois nos 100 metros rasos na categoria T13, novamente atrás da japonesa Tomomi Sato e da russa Arina Baranova. E, finalmente, nos 200 metros rasos na categoria T13.
Faltam sapatilhas e até água
Entretanto, e apesar de serem uma das poucas selecções com títulos mundiais os apoios à selecção paralímpica escasseiam. A nossa menina de ouro, Edmilsa Governo, gostaria de treinar num centro de alto rendimento, onde se pudesse concentrar em treinar e estudar.
“Aqui eu tenho treino, mas não tenho alimentação devida. Teria um ginásio completo, algo que não tenho aqui, teria pelo menos uma água depois do treino, algo que aqui não tenho também, teria spikes, as sapatilhas de corrida(...) agora, quando fomos à Seul, tivemos que usar equipamentos da selecção passada que o governo patrocinou”.
Porém os critérios para a atribuição de bolsas aos atletas com futuro em Moçambique não são claros. A título de exemplo, o atleta Kurt Couto, dos 400 metros barreiras, beneficia-se há vários anos de uma bolsa olímpica contudo não conseguiu até hoje uma medalha num Campeonato Mundial ou em Jogos Olímpicos e, apesar da idade, tem 30 anos, renovou a sua bolsa no ano passado.
Faltam também apoios do empresariado nacional que não reconhece nestes o mérito destes atletas que não se resignaram às suas deficiências e para além de superarem a discriminação tem tido prestações bem melhores que outros atletas, sem nenhuma limitação, e elevam bem alto o nome de Moçambique pelo mundo fora.
Fonte:verdade