Os Mambas defrontam amanhã, em Ndola, uma Selecção Nacional de futebol da Zâmbia que é apenas a que nunca lograram ganhar, cujas derrotas são, inclusive, maiores que os empates.
A Imprensa zambiana conta que de 1989 até agora, Mambas e Chipolopolo defrontaram-se por 20 vezes, com os anfitriões do jogo de amanhã a ganharem 17 vezes, contra apenas três empates da nossa selecção.
Este dado histórico tem a sua importância no subconsciente dos jogadores e do público das duas selecções, mas estamos com clara impressão de que não há memória de num passado recente em que a Selecção Nacional atingiu as escassas 24 horas do jogo com a Zâmbia ostentando níveis de confiança tão elevados quanto os que hoje apresenta para lutar com galhardia pela vitória, mau grado o jogo ser fora de portas, ademais no terreno do próprio adversário.
Uma série de factores concorrem para tanto, desde logo a mentalidade ganhadora e a filosofia de jogo introduzida pelo técnico Abel Xavier.
Ao cabo de 14 meses e 11 jogos disputados, sendo seis oficiais e cinco de controlo, todos eles disputados de Outubro do ano passado a Março último, com um saldo de quatro vitórias, dois empates e cinco derrotas, de permeio com tantas unidades de treino, consideráveis palestras e sessões de vídeo das equipas adversárias para aprimorar, teoricamente, o que os nossos atletas fariam diante de determinadas circunstâncias, diria que jamais os Mambas estiveram prontos para iniciar um novo ciclo no histórico dos jogos com a Zâmbia quanto agora. Isso mesmo sabendo que este confronto de amanhã vai acontecer na sua própria casa.
Como sói dizer, a equipa respira confiança, resultado de ter aprendido uma nova maneira de jogar, assente em ser ela a ter a posse de bola e ser ela a definir o que deve fazer com o próprio jogo, tomando por isso a iniciativa ofensiva e não ficando na retranca, para jogar em função daquilo que o adversário permitisse e, daí, tentar a sua sorte.
Não! Os Mambas de Abel Xavier não querem ter a sua sorte em função do que sobrar das decisões do adversário. São eles que querem decidir a sua sorte.
É esta a questão mental de que nos referimos que traduz-se na quebra do estigma de inferioridade parente os adversários. Amanhã, a equipa vai assumir que, mesmo sendo a Zâmbia o seu oponente, quem deve decidir o curso que o jogo deve tomar devem ser os próprios Mambas.
Por isso, na decisão sobre a forma como o jogo vai decorrer, até o destino da primeira posse de bola afigura-se fundamental.
Estamos crentes de que quando chegar a hora de escolher entre começar o jogo e a baliza a defender, o capitão Dominguez se fique pela posse de bola, para que sejam os Mambas a iniciarem o jogo. Tudo para que, assim que jogo se iniciar, seja a nossa equipa a dizer o que quer de um jogo que não obstante chegarmos confiantes, jamais se anunciou fácil.
Aliás, neste quesito, a única certeza que podemos avançar é que de que a Zâmbia até nos pode ganhar, mas não se vai livrar de ter que triplicar o esforço para tanto.
É que Moçambique chega num momento particularmente especial para o futebol zambiano.
Tudo porque depois de no passado mês de Março o país ter organizado e conquistado o CAN de Sub-20, na última quarta-feira, esta mesma equipa foi recebida por uma multidão em delírio no regresso a casa depois de uma participação a todos os níveis notável no Mundial da categoria, que domingo chega ao fim na Coreia do Sul, com a Inglaterra a defrontar a Venezuela na final.
Os jovens Chipolopolo só foram eliminados nos quartos-de-final pela Itália, por 3-2, após prolongamento por ao final dos 90 minutos regulamentares ter-se verificado um empate de 2-2.
Essa equipa deixou uma enorme impressão na Coreia do Sul e encheu de orgulho o país.
Este facto sinaliza o nível de confiança do seu público que, ajudado pelo factor histórico, vai encher os mais de 40 mil lugares sentados do Estádio Levy Mwanawasa para ver, na sua lógica, mais uma natural vitória sobre Moçambique.
Ora, se em tudo há uma primeira vez, então, que amanhã seja a nossa primeira vez. E, com o que vejo nos treinos, aposto numa equipa a jogar no sistema táctico de 4x4x2, mas com uma variável de 4x5x1, com Dominguês mais produtivo na posição de Tico-Tico, atrás de Ratifo, que deverá ser o único ponta-de-lança fixo.
Mas, para a escolha do “11 inicial”, temos duas dúvidas e uma ameaça.
Isto é, jogaríamos com Guirrigo na baliza; o quarteto defensivo seria composto pelos experientes Zainadine Júnior e Mexer no eixo central, com Edmilson na ala esquerda e Bhéu à direita. Mas Bhéu sofre a ameaça de começar no banco dos suplentes para entrar Norberto, na medida em que o atleta da UD Songo parece estar em boa forma. Aqui há uma dúvida por resolver até à hora do jogo, numa defesa em que Jeitoso não iniciaria um jogo dos Mambas pela primeira vez desde Novembro de 2015 e depois de 13 jogos sempre a titular.
O jogador do Ferroviário de Maputo pagaria o preço de uma certa irregularidade até no seu clube e pelo regresso de Mexer.
No meio-campo, Kambala (UD Songo) parece-nos ser a única certeza como trinco. O seu companheiro é a segunda dúvida que temos. Primeiro porque parecia crível que jogaria com Loló, numa opção em que Geraldo (Fafe, Portugal), não conseguiria a titularidade. No entanto, depois do treino de ontem, parece que é Geraldo quem jogará com Kambala, sendo que Loló perde a titularidade.
A certeza em Kambala é a única que temos para trinco, por se revelar pronto aos choques (que serão muitos) e atleticamente reclamar na actualidade o título de melhor jogador moçambicano naquela posição. Por outro lado, se Geraldo jogou pela última vez contra a África do Sul (1-1), em Novembro de 2016, Kambala aproveitou a chance nos amigáveis contra Angola e Lesotho, em Março último, entrando a substituir ao intervalo e sendo titular nas vitórias por 2-0 e 1-0, em Maputo e Beira, respectivamente.
Ainda no meio-campo, seria sem surpresas que os corredores fossem confiados a Reinildo e Clésio, à esquerda e direita, respectivamente.
Finalmente, o capitão Dominguês vestiria a pele de Tico-Tico, como número nove (9), jogando atrás de Stanley Rafiro.
Para a natureza do jogo em perspectiva, com a Zâmbia também a querer forçar domínio a meio-campo, Dominguês seria mais útil nesta posição do que estando em parelha com Ratifo, porque com os Mambas sem a bola, o craque se juntaria aos colegas do meio-campo como quinto elemento. Em contraposição, a atacar, seria sobre ele onde passariam várias tarefas. Desde logo na definição do último passe para libertar Ratifo quando este estiver em ruptura com a estrutura defensiva da Zâmbia; para manter a posse de bola esperando pelo timing certo para receber o apoio dos alas Reinildo e Clésio e, em último recurso, para ser ele quem em drible serpenteasse os adversários indo para frente, finalizando nos ressaltos ou tirando remates a longa ou meia-distância.
A única vez que Abel Xavier colocou Domingues a jogar nesta posição, em Kigali, em Junho de 2016, o capitão marcou dois golos e os Mambas derrotaram o Ruanda, em sua própria, casa por 3-2.
Narciso Nhacila, em Ndola
Fonte:Desafio