A ESCOLA Secundária Nelson Mandela, construída pela Mozal, no posto administrativo da Matola-Rio, distrito de Boane, no âmbito da responsabilidade social desta empresa de fabrico de alumínio, transformou-se, de há alguns anos a esta parte, num grande centro de forja de talentos para o basquetebol.
Numa iniciativa de singulares, que se juntaram para projectar a pequenada para o Torneio Inter-Escolar Basket-Show, da empresa de telefonia móvel mcel, em representação da “Nelson Mandela”, surgiu um grande projecto de prospecção de talentos que já integram alguns dos grandes clubes da cidade de Maputo. Cleto Chissico, funcionário alfandegário e antigo jogador de formação nalguns clubes históricos, outros já desaparecidos do mapa basquetebolístico nacional, e Sérgio Chivure, professor de Educação Física na Escola Nelson Mandela, são os promotores da nobre iniciativa e que já produziu mais de 30 atletas federados, que fazem actualmente parte das equipas de iniciados, juvenis e juniores de alguns dos grandes clubes da cidade de Maputo. Na entrevista que se segue, Cleto Chissico conta a história deste que se tornou num grande projecto de formação, que chama a atenção a muitos clubes nacionais que pouco ou nada se preocupam com a formação.
(NOT.) – Como é que surge esta ideia de criar um projecto de prospecção de talentos para o basquetebol federado?
CLETO CHISSICO (CC) – Foi em 2013, numa altura em que trabalhava no Parque Industrial de Beloluane, no posto administrativo da Matola-Rio, próximo da Escola Nelson Mandela, que identifiquei, neste estabelecimento de ensino, um campo de basquetebol com boas condições para a prática da modalidade. Aproximei-me e conheci lá um professor de Educação Física de nome Sérgio Chivure, que trabalhava com crianças no mini-básquete e propus-lhe que trabalhássemos juntos num projecto de formação de talentos sem fins lucrativos.
E, uma vez que já existia o projecto “Basket-Show”, virado ao basquetebol juvenil, apostámos num projecto visando inicialmente preparar uma equipa para aquele torneio em representação da escola, no mesmo ano de 2013. E conseguimos, na estreia, alcançar o quinto lugar. Continuámos a trabalhar no ano seguinte, já também com femininos, e a nossa meta era conquistar o torneio em masculinos e conseguimos. Pela primeira vez, a “Nelson Mandela” sagrou-se campeã e, em femininos, conseguimos qualificar a equipa para a fase final, tendo terminado o campeonato em quarto lugar.
NOT. – Qual tem sido o destino desses talentos?
CC – Alguns clubes já beneficiaram e continuam a beneficiar deste nosso projecto. A equipa masculina está a representar a Autoridade Tributária. São 12 jogadores juvenis, a maior parte dos quais nascidos em 1999, e que ascenderam aos juniores este ano. Tínhamos uma equipa de iniciados femininos, também a representar a AT, e que também ascendeu aos juvenis. Houve reclamações porque a equipa de juvenis masculinos (agora júnior) superou todos os adversários no Torneio de Abertura recentemente terminado, e acabando por conquistar a prova. Portanto, associámo-nos à Autoridade Tributária no âmbito da campanha de popularização do imposto.
E foi por via de uma conversa que tivemos com Elman Nhatitima, jogador da equipa sénior do Desportivo de Maputo e que trabalha no Gabinete de Comunicação e Imagem naquela empresa, que firmámos uma parceria com a AT. Na conversa, explicámos que tínhamos muitos miúdos que fizeram o “Basket-Show” e que haviam superado a idade-limite para continuarem no torneio. E que, para não se perderem, solicitámos que a AT pegasse nas equipas em sua representação. Foi assim que a AT se lançou para o basquetebol, através das nossas equipas.
O nosso acordo com a AT é preparar os talentos para representarem a empresa no basquetebol federado. E assim acabámos nos transformando em treinadores destas mesmas equipas nas provas oficiais de juvenis e juniores a nível da cidade de Maputo. Mas temos outros atletas por nós projectados noutros clubes, como Ferroviário e Desportivo. Aliás, passámos também 12 atletas para a iniciação no Ferroviário de Maputo, alguns dos quais (5) ainda com idade para continuar no “Basket-Show”. O nosso MVP no “Basket-Show” da edição 2015, em masculinos, Elton Bem, joga pelos juvenis e juniores do Ferroviário de Maputo.
NOT. – Pode falar-nos das contrapartidas nesse acordo com a AT?
CC – Em contrapartida, a AT apoia-nos em equipamento para os atletas, lanche e transporte. Como se trata de um projecto, esperamos ter outro tipo de contrapartidas no futuro. Por enquanto, trabalhamos por amor à camisola. As coisas podem fluir como não no projecto com a AT em termos de contrapartidas, mas como é de coração estamos felizes. Aliás, fazemos a formação porque gostamos. Ninguém nos obriga. Queremos é apoiar o desporto, em particular o basquetebol, a ir mais longe. Já produzimos quase 30 atletas para federados.
A AT está em todo o lado e o nosso sonho é ter uma equipa da zona a representar o distrito de Boane, onde a “Nelson Mandela” está sediada. Não interessa o nome que vamos dar, mas o importante é permitir que as crianças continuem a praticar o basquetebol, o que eles gostam, porque quando acaba o “Basket-Show” desaparecem. Também contribuímos para a formação social das crianças. Aconselhamo-las que primeiro são os estudos e depois o desporto.
NOT. – Qual é o vosso regime de trabalho e como conseguem trabalhar com equipas para o “Basket-Show” e basquetebol federado.
CC – Considerados inicialmente como um centro de forja de talentos, actualmente, com o acordo com a AT, trabalhamos com projectos da escola e de federados. Deste modo, apenas estudantes da “Nelson Mandela” estão no projecto do “Basket-Show”. Aqui, trabalhamos com o apoio de alguns amigos. A AT, por enquanto, deu-nos bolas. A escola só nos cede o campo, mas existem algumas empresas que nos apoiam no projecto de “Basket-Show”. Quanto aos federados, dizer que a equipa feminina treina das 16.00 às 17.30 horas e a masculina das 18.00 às 19.30 horas, às segundas, quartas e sextas-feiras. Aos fins-de-semanas jogam. Entretanto, orientamos as equipas com o apoio de técnicos de formação, alguns dos quais foram nossos atletas. A expectativa é trabalhar na perspectiva de termos equipas de seniores no futuro, visto que temos alguns atletas nossos noutros clubes.
NOT. – Nisto tudo que tem estado a fazer por amor à camisola qual é o seu maior sonho?
CC – O meu maior sonho é que eles se transformem em homens novos. Esse é que seria o nosso maior ganho. O meu apelo vai aos encarregados de educação para que nos acarinhem, porque nós ajudamos a educar os seus filhos. Notamos que nalgumas saídas que tivemos com as crianças para competir na vizinha África do Sul, em torneios inter-escolares a convite de entidades escolares locais, nem sequer nos contactaram para saber como foi a nossa viagem. Falando da África do Sul, já tivemos três convites para torneios inter-escolares.
Em 2014, tivemos um para participar, com ajuda de algumas empresas, num torneio em Joanesburgo, aonde levámos uma equipa masculina, tendo alcançado o segundo lugar, depois de transitarmos para a fase final também em segundo lugar, num grupo de cinco equipas. No total, eram quatro grupos, portanto 20 equipas. Com a experiência que adquirimos no torneio sul-africano, apostámos já em atacar o segundo título consecutivo no “Basket-Show”, em masculinos, porque fomos campões em 2014.
E conseguimos também no ano seguinte, em femininos, e ficámos em terceiro lugar no “Basket-Show”. Em Janeiro deste ano, tivemos um novo convite desta vez feito pela Escola Americana em Joanesburgo para um torneio no qual participámos apenas com a equipa feminina, num total de 16, subdivididas em quatro equipas. Dominámos a nossa série e chegámos à final, na qual curiosamente cruzámos com a Escola Americana e sagrámo-nos vencedores. Já em Fevereiro, fomos novamente à África do Sul e participámos num novo torneio, em masculinos, no qual ficámos em quarto lugar.
NOT. – O que será feito daqui para a frente. Tem novas ideias, novos projectos?
CC – Daqui para a frente é continuar a trabalhar, na perspectiva de desenvolver o basquetebol em particular na província de Maputo, distrito de Boane. Infelizmente, não existem campeonatos localmente e assim a única saída é projectar os talentos para os campeonatos da cidade de Maputo. Mas o nosso objectivo é ter uma equipa a representar o distrito em federados. Aliás, já estamos a trabalhar com um novo grupo que está a ser projectado para o “Basket-Show” em masculinos e femininos para atacar o terceiro e o primeiro títulos, respectivamente. Temos 30 atletas, de 14 a 15 anos, que foram recrutados em finais do ano passado. Temos ainda perto de 25 com idades que variam de 13 a 14 anos que estão a aprender a prática do basquetebol. Temos igualmente crianças (15 meninas), também com idades de 13 a 14 anos, que estão a ser preparadas para participar no Torneio NBA, promovido pela ex-basquetebolista Clarisse Machanguana. Este terá início já no dia 13 deste mês.
A perspectiva é de o distrito de Boane ter uma equipa de basquetebol federado de iniciação. Portanto, o nosso projecto de prospecção de talentos para o basquetebol federado, no campo da “Nelson Mandela”, está aberto para todos os meninos interessados à volta ou nas proximidades, mesmo a nível do distrito. Isso vai encurtar a distância para aqueles meninos que gostam de jogar basquetebol e que são obrigados a ir à cidade de Maputo na ausência de um movimento federado na província.
PERFIL DE CLETO CHISSICO
ANDOU no basquetebol como atleta na década 80, na iniciação. Jogou primeiro no Desportivo de Maputo e Cajú de Moçambique, uma das empresas que no passado abraçaram o desporto, como iniciado, e terminou como júnior no Ferroviário de Maputo, em 1988.
No ano seguinte, abraçou a carreira de treinador de basquetebol, começando pelo desporto escolar na Escola Secundária de Lhanguene, onde era aluno aos 18 anos. Treinou uma equipa feminina desta escola. Já em 1990, abraçou o projecto da Emplama e trabalhou com mini-básquete e iniciados masculinos. Já em 2013, integrou o projecto de “Basket-Show” na Escola Secundária Nelson Mandela, preparando as equipas para o torneio.
SALVADOR NHANTUMBO
Fonte:Jornal Noticias