OS treinadores nacionais andam revoltados com a Federação Moçambicana de Futebol (FMF). Em causa está o adiamento do curso de nível A que devia ter acontecido de 11 a 25 deste mês na Academia Mário Coluna, na Namaacha. Os técnicos recusaram-se fazer o curso, alegadamente por falta de condições condignas para o efeito, sobretudo no capítulo de alojamento.
Segundo eles, a FMF quis hospedá-los em condições inóspitas (dormindo em beliches) num dos salões de reunião da Academia da Namaacha, durante 15 dias do curso. Como consequência, nenhum técnico admitiu aquelas condições, sendo que a FMF não teve outra saída senão adiar o curso chancelado pela Confederação Africana de Futebol (CAF), com o financiamento da FIFA.
Ao todo eram 28 técnicos moçambicanos, que deviam beneficiar deste curso, todos com o nível B, sendo que a partir desta capacitação passariam a ter o nível A, o mais alto. Para o curso, cada treinador havia pago 10.500 meticais como taxa de participação, verba que iria suportar as despesas dos materiais didácticos, de higiene e limpeza, alimentação e subsídios aos instrutores. O transporte é da responsabilidade da FMF.
LOGÍSTICA FORÇOU ADIAMENTO
De acordo com o director-técnico da FMF, Abdul Abdula, o adiamento do curso deveu-se à falta de condições logísticas, sobretudo aos problemas no alojamento dos treinadores. Segundo o dirigente, a Academia Mário Coluna possui sete casas, quatro em boas condições e outras três em estado crítico. Destas quatro casas em condições, três estão ocupadas pelos técnicos que trabalham naquele empreendimento desportivo e apenas uma é que está livre.
O mais grave é que os funcionários afectos na Academia não aceitam partilhar a mesma casa, e o gabinete técnico da FMF, segundo Abdula, não tem como os demover, pois não se envolve em problemas patrimoniais. “Estas sete casas se estivessem em condições e desocupadas, podíamos ter feito o curso sem problemas, pois podem albergar 28 pessoas. E nós quando fomos ao curso só tínhamos uma casa disponível que pode alojar quatro a seis pessoas, sendo que aos restantes treinadores sugerimos que dormissem num salão, nos beliches, o que declinaram”, explicou.
Continuou, dizendo que “entendo o por quê negaram, até porque têm toda razão. Reconheço que não é muito digno para eles. Também sou defensor de boas condições de hospedagem sempre que há curso do género, mas infelizmente não temos recursos. Já estive em academias financiadas pela FIFA, como é o caso de Portugal, Holanda, Alemanha e outros países, onde, de facto, as condições são outras. No Hotel Chissaca, ao lado da Academia por cada quarto, simples ou duplo, devíamos pagar três mil meticais e vezes 28 pessoas por 15 dias é muito dinheiro, não iríamos suportar. O que posso dizer é que neste tipo de situação, a FMF podia ser ajudada ou pelo ministério da tutela ou por outras entidades para minimizar os custos. Para este curso, há fundos da FIFA, mas não são destinados só para a formação de treinadores, são também para muitas outras actividades. Em relação à Academia, penso que o director da instituição devia fazer algum esforço no sentido de se montar casas pré-fabricadas e colocar as que já existem em boas condições”, atirou.
CAF ENTENDEU A SITUAÇÃO
Segundo Abdul Abdula, a CAF não reagiu negativamente ao adiamento do curso, entendeu as dificuldades da FMF, mas lamentou o facto de o instrutor ter vindo a Moçambique em vão. “Foi transtornante para todos. A CAF lamentou sobretudo pelo facto de o instrutor ter saído do seu país para se deparar com uma situação como esta. E nós tivemos que pagar uma diária de mil randes a ele, a hospedagem no Hotel Chissaca, alimentação e transporte de regresso à sua terra (Suazilândia) e, felizmente, ele compreendeu”, disse.
“O nosso apelo vai aos treinadores que deviam entender esta situação. Eles têm toda a razão, mas não deviam falar deste assunto nas redes sociais, isso é feio”, lamenta. Abdula garantiu, por outro lado, que o curso será realizado em Novembro do próximo ano, por um período de 30 dias. “Já não é possível este ano ou no início do próximo, dado que quase todos os técnicos inscritos têm compromissos com os seus clubes em diferentes provas”.