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centro de documentação e informação desportiva de moçambique

Este blog tem como objectivo difundir a documentação de carácter desportivo

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Estou de volta à casa

 

Alcides Chambal foi, semana passada, apresentado como novo treinador do Matchedje, para substituir Alex Alves, depois que Filipe Chissequere assumiu, de forma interina, o cargo de treinador principal. Trocando a Académica pelos "militares", Chambal diz à sua chegada que se trata apenas de um regresso à casa.


Depois de ter iniciado a sua carreira de treinador em grandes equipas como Ferroviário de Maputo e Liga Muçulmana, Alcides Chambal lançou-se “às feras” assumindo o papel de treinador principal de uma equipa, nos princípios deste ano, abraçando o projecto da Académica, que milita na I Divisão do Campeonato de Futebol da Cidade de Maputo.

 



No momento de seguir para o Matchedje, Chambal diz não ter abandonado o projecto e assegura que acabou mesmo realizando um trabalho excelente, juntamente com a equipa técnica por si sugerida, chegando mesmo, segundo ele, a superar as expectativas, na medida em que, antes de se familiarizar com a realidade do clube, elevou muito a fasquia em termos de objectivos a alcançar, aventando a possibilidade de qualificar a Académica para o Moçambola, ganhando a Popule de Apuramento da Zona Sul, numa temporada em que, para além do Estrela Vermelha, um dos seus concorrentes directos nos últimos tempos, também conta com a presença do Desportivo de Maputo, um monstro com o orgulho ferido e que espera, a todo o custo, regressar para o lugar de onde nuca deveria ter saído.


 

Volvidos dois meses e depois de uma profunda conversa com a direcção do clube liderada por Altenor Pereira, chegou à conclusão de que a Académica, por ora, não dispõe de recursos para sustentar uma equipa que esteja a competir no Moçambola, depois de passar pela Poule. Tudo o que neste momento pode fazer é trabalhar mais na formação, ao mesmo que focalize o fornecimento de jogadores a equipas que compitam ao mais alto nível do futebol moçambicano. Ademais, contrariamente ao que caracterizava este clube, já não há atletas-estudantes, nem estudantes-atletas. E os dirigentes do clube acabarem percebendo que o treinador era mais sonhador que as possibilidades que a colectividade podia oferecer.



 

Chambal, que tinha um vínculo com a Académica por tempo indeterminado, diz deixar a colectividade de cabeça erguida e com a consciência de dever cumprido pois, já ao quinto mês de trabalho com a equipa, os jogadores haviam apreendido tudo quanto ele queria dos seus pupilos, de tal forma que, à sua saída, os “estudantes” ocupavam a terceira posição no Campeonato de Futebol da Cidade de Maputo, a quatro pontos do segundo classificado, o Estrela Vermelha, numa prova liderada pelo Desportivo de Maputo.


 

 


 

A CONSUMAÇÃO DE UMA CONVERSA ANTIGA


 

Mas, se é de Alcides Chambal que estamos a falar, especificamente sobre a sua mudança de ares, rumo ao Matchedje, nada melhor do que ele mesmo falar dos contornos deste novo casamento, bem como da espinhosa missão que tem pela frente, que é tirar os “militares” da zona de despromoção para a da manutenção.

 



- Como é que troca a Académica pelo Matchedje?



 

- Foi a consumação de um processo pois, há dois anos, conversei com o anterior presidente do Matchedje, o Dr. Norberto Santos, quando eu estava ávido em trabalhar, mas tudo não passou de mera conversa. A seguir não houve mais desenvolvimentos, alegadamente por falta de recursos para suportar aquilo que poderiam ser as minhas eventuais exigências. Foi apenas uma conversa. De lá para cá, nunca fiz nenhum “lobby”.


Então, este convite apareceu por acaso, através de uma mensagem que caiu no meu e-mail, enviada por Zaqueu, director do Departamento de Futebol do Matchedje, se não estou em erro, a solicitar um encontro comigo. Conversámos, mostrou-me o cenário do clube e da equipa, as condições de trabalho e, ao fim de 10 dias de conversações, chegámos a acordo. Devo ainda dizer que as etapas foram todas queimadas com simplicidades, pois estar no Matchedje é o mesmo que regressar à casa. Fiquei cinco anos nesta casa, conheço cerca de 75 por cento das pessoas que aqui estão e com um outro aliciante ainda: o campo para o nosso trabalho.


Do ponto de vista do desafio, sei que o Matchedje está em último lugar e julgo ser um desafio de homens. Acredito que o Matchedje está ao nível das equipas que lutam por não descer de divisão mas, se formos a olhar para a tabela classificativa, podemos notar que o sexto classificado tem 17 pontos e, dos 39 pontos que estão em disputa, nesta segunda volta, podemos arrecadar muitos. Se nos sete primeiros jogos o Matchedje conseguir ganhar quatro, estará a dar um forte aviso com vista à manutenção.


 

- Quando é que começou a ter o contacto directo com a equipa?


 

- A apresentação foi na passada segunda-feira, mas o trabalho propriamente dito teve seu início na terça-feira, com sessões bidiárias, preparando os aspectos de organização do jogo. Neste momento, posso dizer que o nosso modelo de jogo já está quase definido e nos sentimos preparados para defrontar o nosso primeiro adversário (ontem, o HCB) com dignidade.


 

- Feito o diagnóstico, o que encontrou, na realidade, no Matchedje?


 

- Encontrei atletas crentes na saída da situação em que a equipa se encontra. De há dois dias a esta parte, sinto uma atitude e noto que os jogadores estão, a pouco e pouco, a tentar assimilar novas metodologias de treinamento, o que não é nada fácil. Entretanto, tenho a certeza de que, se eles assumirem uma atitude de sacrifício, poderão disfarçar fragilidades nestes primeiros dias, pensando que dentro de três semanas possam mostrar algo ainda melhor.


 

- Tem alguma ideia do que poderá estar na origem da classificação negativa do Matchedje?


 

- Só ouvi dizer que o técnico Alex Alves não teve a possibilidade de escolher, pessoalmente, os jogadores para formar o seu plantel. Dizem que quando ele foi contratado faltava muito pouco tempo para o arranque do Moçambola e havia cerca de 80 jogadores a lutarem por ficar no Matchedje. Mas acho que se a equipa está nesta posição é pela organização tardia da transição da época passada para esta. Acho que houve mau trabalho administrativo.


 

- É este mau trabalho que se predispõe a herdar?


 

- Já me esqueci do eventual mau trabalho que tenha sido feito. A partir da altura em que a janela de transferências se fechou, esta situação de fragilidades fica ultrapassada. Agora não tenho de me queixar de nada. Pelo contrário, tenho de lutar com vista a potenciar estes jogadores, para se identificar com aquilo que é o modelo de jogo que pretendo, a forma dinâmica e intensa com que eu pretendo que jogue. Só me posso dar por feliz por ter de enfrentar estes desafios.


 

COM ESTA PROLONGADA INTERRUPÇÃO


 

Devia ter sido chamado há mais tempo


 

O Moçambola conheceu uma prolongada interrupção para efeitos de acerto do calendário, para além de dar lugar aos compromissos da Selecção Nacional que, depois de participar no Torneio da COSAFA, na Zâmbia, teve uma eliminatória para o CAN Interno, com a Namíbia.


 

- Com um defeso que durou muito tempo, não acha que lhe tenham sido dados poucos dias para se familiarizar com a equipa e partir tranquilamente para os objectivos que persegue?



 

- Neste aspecto, eu acho que as pessoas que estiveram por detrás da mudança da equipa técnica claudicaram. Mesmo que fosse um treinador vindo de outra galáxia, com o tempo de que disponho (nem há tempo!) não faria o melhor. O jogo com o HCB (ontem) serviu apenas para fazer uma avaliação do que, na verdade, é a equipa. Penso que na janela das transferências, ou no período em que a Selecção Nacional começou a preparar-se se devia ter começado o nosso trabalho. Por estas alturas, estaríamos a trabalhar com uma equipa muito mais coesa, ou próxima do óptimo.

 

 

- Começar com HCB, no terreno deste, foi a melhor coincidência?


 

- Só me queixo pela deslocação, mas pelo nível do adversário penso que foi um adversário que se encaixou muito bem naquilo que são os propósitos do Matchedje. HCB é uma equipa que trabalha muito, corre muito, mas a deslocação a Songo foi muito cansativa e acabou por não dar o tempo suficiente de descanso aos atletas. Mas também reconheço que, jogando fora, a pressão é sempre menor. Mas a atitude e o sacrifício é que devem estar acima de qualquer outro factor, para se poder ter uma equipa ganhadora. 


 

A RAZÃO DAS SESSÕES BIDIÁRIAS


 

Queremo-nos identificar com o grupo


 

Nas primeiras sessões de treinos, Alcides Chambal optou por fazer dois treinos por dia, mesmo estando a meio da época e a equipa ter estado sob o comando técnico de Filipe Chissequere e seu colega Álvaro Matine, facto que inspirou a seguinte questão:



 

- Por que, na sua primeira semana, optou por sessão bidiárias?


 

- Foi pelo volume do trabalho que pensamos que a equipa deve fazer, para tentar aproximar-se à identidade dos treinadores. Optámos por treinar duas vezes nos primeiros dois dias, para vermos se conseguimos corrigir algumas coisas e encararmos o primeiro jogo com uma postura um bocado diferente. Não vou falar de problemas físicos, porque só se pode detectar esta problema quando se faz um jogo oficial, onde há pressão e há resultado. O primeiro jogo, com o HCB, é que terá servido para avaliar o estado geral da equipa.




Fonte:Desafio