Nos clubes: Fraca qualidade pode ser espelho de pouco interesse na formação
A FRACA qualidade do futebol em Moçambique, o que resulta em maus resultados das equipas e das selecções nas competições internacionais, pode ser reflexo da pouca atenção que os clubes prestam à área de formação.
O “Notícias” visitou, recentemente, alguns clubes da capital do país para se inteirar do que é feito na formação de jogadores, e em todos eles há algo em comum: pouco investimento na formação, excepto na Académica, onde, através do seu principal parceiro, a Universidade Eduardo Mondlane, tem-se feito um trabalho e investimento palpáveis nesta área.
No Maxaquene, um clube do primeiro plano no futebol moçambicano, os técnicos queixam-se a todos os níveis. No Atlético Moçambique, os timoneiros dizem que a direcção faz o que pode, enquanto os técnicos dos “estudantes” afirmam que têm condições criadas para o trabalho.
Maxaquene: Técnicos lamentam precariedade das condições
OS técnicos afectos ao departamento de formação do Clube dos Desportos da Maxaquene lamentam a precariedade das condições de trabalho, enfatizando que é bastante delicado trabalhar nesta área perante a falta de quase tudo, nomeadamente, equipamentos, transporte e alimentação adequada para os formandos, sobretudo nos dias de jogos.Face à inércia da direcção do clube, grande parte das despesas de formação dos atletas é suportada, não raras vezes, pelos próprios treinadores com base nos seus ordenados.
De acordo com o chefe do Departamento de Formação, Matias Champanga, mais conhecido por Bebé, os quatro escalões de formação existentes naquela colectividade, nomeadamente infantis, iniciados, juvenis e juniores, debatem-se com problemas similares, precárias condições de trabalho.
“Não temos bolas, botas, coletes, mecos, calções e camisetas, ou seja não temos equipamentos de trabalho. Mas eu questiono-me até hoje porquê um clube da dimensão do Maxaquene não consegue ter miúdos bem equipados em pleno Século XXI, com tantas empresas que fazem equipamentos desportivos na praça?”, questionou.
Para Champanga, a questão da formação no Maxaquene não está bem definida, fala-se de formação e depois pronto, mais nada!
Em relação ao orçamento para a formação, disse que a questão não está bem clara, porque se estivesse, pelo menos anualmente a direcção do clube procuraria saber o que é necessário, o que falta, ou o que existe.
“É neste contexto que disse que não temos bolas, botas, mecos e até mesmo copos para os miúdos beberem água depois de uma sessão de treinos ou jogo. Não quero falar mal da direcção, mas queria vê-la a fazer o seu papel, que é a gestão do clube”, atirou.
Para o nosso interlocutor, a principal dificuldade por que passam os formadores prende-se com o transporte, pois segundo afiançou é a condição “sine qua non” para os atletas se fazerem aos treinos. Muitos provêm de famílias humildes, sem qualquer poder financeiro para suportar as despesas de transporte, o que faz com que os miúdos não frequentem os treinos com regularidade.
“Temos problemas de alimentação, sobretudo nos dias do jogo. Aos atletas só damos uma fatia de pão e “jam”, antes e depois dele. Mas podíamos, se calhar, dar um almoço de esparguete com carapau ou arroz, o que seria muito bom para o rendimento dos atletas e, acima de tudo, para a sua saúde. Nos treinos, não há nada”, disparou.
A fonte vincou ainda que o departamento de formação está desamparado, não percebendo, por exemplo, o que custa a direcção comprar uma caixa de massa, uma lâmina de peixe, por semana, para alimentar os atletas.
No tocante a equipamentos, revelou que os juniores e juvenis usam os mesmos equipamentos para jogos e quando jogam no mesmo dia trocam-se, com os últimos a jogar a terem de entrar com equipamento sujo e suado, correndo todos os riscos de saúde.
“Nós só estamos a falar de formação, mas formação no verdadeiro sentido do termo, no Maxaquene, não existe, é uma miragem”, esclareceu.
As palavras de Champanga foram corroboradas por Satar Morres, treinador de juvenis, que acrescentou que suporta as despesas de transporte de todos os seus 25 jogadores, incluídos três que vivem na Namaacha, a quem, inclusive, custeia as despesas de alimentação quando estiverem em Maputo.
Ajuntou que todos os escalões de formação compartilham apenas três bolas, duas das quais por ele compradas. Os juvenis possuem, segundo ele, apenas 10 pares de botas, um material doado por uma empresa da praça, mas sem qualidade.
Sublinhou ainda que a sua equipa não muda equipamento já lá vão cerca de três anos, situação agravada pelo distanciamento total da direcção, que nem sequer se aproxima nos dias de jogo ou de treinos, o que motivaria, segundo ele, os meninos, que na sua óptica trabalham sem motivação.