APONTAMENTO - Reflectir sobre o nosso desporto!
O QUE se passa no nosso futebol? Esta é uma questão que se levanta quando se aborda o conceito futebol, mas que nalguns casos não encontra explicação. O Desportivo e o Maxaquene estão fora da corrida pelo título no Moçambola a cinco jornadas do seu término.
Pode ter passado despercebido para alguns, mas a verdade é que os vizinhos (Desportivo e Maxaquene) já não podem ser campeões este ano. As razões, talvez reflectirmos todos juntos sobre elas. Mas, para mim, as explicações para o fracasso destes dois clubes na presente época têm que ser encontradas internamente. Ou por outra, dentro do clube e nada de atirar pedras para casa do vizinho.
Ora vejamos: tanto o Maxaquene como o Desportivo não se prepararam para uma época competitiva como é a deste ano. Viraram as suas baterias para a componente infra-estrutural ou seja de instalações. Se repararmos atentamente os dois clubes têm algo de comum: venderam os seus campos de futebol, para além de terem a meio da temporada trocado dos seus técnicos principais com quem arrancaram a época. Isto, até certo ponto, pode ser minimizado por uns, mas considerado por outros, como sendo a razão do fracasso.
Aliás, a conclusão a que chego é que estes dois clubes não se prepararam para grandes confrontos este ano e dormiram à sombra da bananeira, como sói dizer-se, pensando que uma vez grandes serão sempre grandes. E consequentemente caíram no ridículo ao ponto de estarem mais próximos da despromoção do que da conquista do título como era a sua pretensão quando o Moçambola arrancou. Estão também fora da segunda maior prova nacional, a Taça de Moçambique mcel. E… agora o que será deles daqui em diante?
Não se pode negar que o Atlético Muçulmano e a Liga Muçulmana investiram sobremaneira para melhor ombrearem com os tradicionais colossos do futebol moçambicano. Em muito pouco tempo, ergueram instalações invejáveis e constituíram equipas de gabarito, com alguns dos melhores treinadores da praça.Não nos esqueçamos que o Atlético Muçulmano é orientado pelo conceituado técnico Arnaldo Salvado. Quem não o conhece? Que a Liga Muçulmana foi buscar um técnico brasileiro que não me parece leigo nesta matéria. A isto junta-se o factor financeiro algo robusto de que as comunidades muçulmanas usufruem neste momento.
Por que não pensarmos assim? Este é um posicionamento que pode suscitar grandes reflexões, se quisermos falar do desporto no país, onde o próprio Maxaquene e o Desportivo venderam parte das suas instalações e parece-nos que está a ser difícil adquirir novas. Não será esta uma das razões que leva os adeptos a se enfurecerem e atacarem outrem, quando o problema pode estar dentro do seu quintal?
As massas associativas do Maxaquene e do Desportivo já se sentaram para saber dos destinos dados aos valores financeiros resultantes da venda dos seus jogadores e das suas instalações? Não será este um problema de fundo que deve ser debatido a todos os níveis? Será mesmo que o suborno aos árbitros só começou com o surgimento das equipas muçulmanas? Alguém já conjenturou sobre isto tudo?
Não se esqueçam que quando numa casa não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Não será que a falta de resultados por parte de alguns dos chamados grandes esteja a impulsionar cenas de violência? Sem pretender mencionar nomes, há dirigentes que não faltavam aos campos quando as suas equipas ganhavam, mas que hoje já não são vistos. Será que se afastaram, pura e simplesmente?
…E NA TAÇA ONDE ESTÁ A CIDADE DE MAPUTO?
Não tem sido normal a estas alturas a cidade de Maputo não ter um único representante na Taça de Moçambique. Mas aconteceu: Inédito!O Costa do Sol e o Estrela Vermelha, que até então eram os representantes da cidade de Maputo nesta segunda maior prova nacional, caíram fora no último fim-de-semana. O Costa do Sol foi a Nampula perder com o Ferroviário de Nampula, por 0-1, e o Estrela Vermelha cedeu em casa diante do Chingale, no desempate por penaltes, depois do 1-1 no tempo regulamentar e no prolongamento.
Este novo fenómeno no nosso futebol merece alguma reflexão para se saber efectivamente o que se passa. Será que a capital do país parou no tempo e as províncias andaram a velocidade astronómica? Algo de estranho está a acontecer no nosso futebol, sem logicamente pretender tirar mérito a todos que com todo o sacrifício têm dado o seu melhor a este futebol, desde os dirigentes, passando pelos técnicos e jogadores, até ao pessoal auxiliar.
Com este andamento, um dia a cidade de Maputo correrá o risco de perder a hegemonia do futebol moçambicano que havia conquistado nos últimos anos.
Quero deixar claro aqui que não defendo a quem quer que seja. Tenho sido muito crítico aos árbitros. Sei que cometem erros e até em demasia. E aos poucos que são meus amigos tenho-lhes dito para não programarem erros, porque isso, para além de ser desumano, é crime. Não quero também defender os dirigentes, porque alguns deles nem têm moral para estar à frente de grandes clubes, porque, no lugar de servirem, se servem.
Apenas queria alertar para a necessidade de se olhar para o desporto no geral como área social igual a tantas outras, porque, no fundo, os maus resultados só afugentam o público, os patrocinadores e até mancham a reputação do nosso país. Vamos todos, de olhos bem abertos, caminhando para a mesma direcção. Estou do lado da verdade desportiva e no Moçambola do lado da Liga Moçambicana de Futebol do Bem.
Gil Carvalho