AFROBÁSQUETE MADAGÁSCAR-2009 - Camarões fritos ou grelhados no começo da grande festa?
COMEÇANDO por não duvidar da arte de bem cozinhar das nossas jogadoras, julgamo-nos verdadeiramente bafejados pela sorte, pois na faustosa mesa da grande festa que hoje se inicia em Antananarivo, teremos Camarões.
O adversário é teoricamente de menor dimensão e a turma moçambicana reúne todas as probabilidades de alcançar os seus objectivos: vencer e deixar claramente vincada a sua marca logo no começo, tendo em conta o primeiro lugar no Grupo A e, posteriormente, a luta com as outras “trutas”pelo título continental.
Depois dos intempestivos acontecimentos verificados em Joanesburgo, na quarta-feira, que acabaram ditando a deslocação ao “teatro das operações” em dois grupos, uma situação que naturalmente desagradou o seleccionador nacional, uma vez que parte do seu programa ficou comprometida, nomeadamente o treino previsto para ontem, a nossa equipa já se encontra reunida e pronta para ultrapassar as vicissitudes que terá pela frente. Aliás, a primeira foi precisamente a vivida no aeroporto da cidade do rand, que, não fosse a grande força de vontade que é apanágio deste conjunto superiormente conduzido por Nazir Salé, teria afectado moralmente o time e consequentemente feito desmoronar todos os planos traçados para esta competição africana.
Sem algumas das nossas mais experientes e valorosas atletas, Nazir Salé tem que construir o seu castelo com as “operárias” à disposição e que, conforme faz questão de sublinhar, são da sua inteira confiança. As ausências de Deolinda Ngulela, com os seus compromissos académicos e profissionais nos Estados Unidos da América, Deolinda Gimo e Zinóbia Machanguana, estas duas impedidas de participar na selecção pelo seu clube, o Ferroviário, o treinador foi buscar uma formação que reúne duas componentes: uma, já com alguma rodagem internacional, e outra ainda à procura de um lugar ao sol, no entanto, com índices competitivos extremamente espantosos.
PESO DE ANA FLÁVIA
Ana Flávia Azinheira, a mais velha do grupo, é uma unidade nuclear que certamente fará diferença na equipa, transmitindo às mais novas a confiança que elas precisam. Também com bagagem internacional à altura de desequilibrar os acontecimentos e manter a ordem no seio do time, quando as circunstâncias assim o exigem, estão Ana Branquinho, Amélia Macamo, Aleia Rachide, Ondina Nhampossa e Valerdina Manhonga, que já enfrentaram competições desta natureza e que, em Antananarivo, merecerão o necessário respeito por parte das adversárias.
Anabela Cossa, cujo furor no Afrobásquete de Sub-20, em Maputo, foi inquestionável, já é também uma jogadora de referência, contando no seu currículo com participações em grandes eventos africanos e mundiais.
Kátia Halar, uma triplista que promete sucesso em Madagáscar, Leia Dongue – a debutante de quem mais se fala neste momento –, Odélia Mafanela, Filomena Micato e Marta Ganje são atletas que, a despeito de ainda não serem renomadas no panorama continental, irão mostrar as suas magníficas qualidades e, sobretudo, sublinhar que Moçambique possui um conjunto equilibrado e altamente talhado do ponto de vista físico e táctico, isto é, pronto para aguentar a enorme carga de jogos do campeonato sem sobressaltos.
E, para começar, será sem sobressaltos que as nossas meninas nos servirão, hoje, Camarões deliciosos, sejam fritos ou grelhados. Em múltiplas ocasiões as camaronesas procuram travar-se de razões com as moçambicanas, mas estas nunca deixaram os seus créditos por mãos alheias. Nesta nova epopeia africana que a selecção pretende escrever e que tem como palco a grande ilha do Oceano Índico, ganhar aos Camarões é uma imposição, pois somente dessa forma as portas do êxito começarão a abrir-se de par em par.
O Grupo A é dos menos problemáticos, e Moçambique tem como forte oponente o Senegal, seu adversário na segunda jornada, amanhã. Aí, sim, teremos que apelar a toda a inteligência e perspicácia das nossas jogadoras para fazerem face a uma equipa que está em Antananarivo com todo o seu esquadrão de atletas a evoluir nos campeonatos europeus, com particular realce para França. As senegalesas, que perderam o último Afrobásquete em casa, a favor do Mali, apostaram forte, tendo como horizonte o “mundial” do próximo ano.
ALEXANDRE ZANDAMELA, em Antananarivo