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centro de documentação e informação desportiva de moçambique

Este blog tem como objectivo difundir a documentação de carácter desportivo

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MOÇAMBOLA-2009 - Maxaquene, 0-Ferroviário, 1 : Na tarde do grande clássico vénia à classe dos artistas

A precisamente duas semanas para a memorável tarde que se augura venha a acontecer no Estádio da Machava, quando os “Mambas” receberem a poderosa selecção da Nigéria, o primeiro “derby” do Moçambola-2009, ontem à tarde, foi uma magnífica propaganda do nosso futebol.

jumisse

Tanto do ponto de vista de presença do público, que encheu o novo campo dos “tricolores”(ex-Atlético Muçulmano), como do comportamento dos artistas, cuja classe merece a nossa vénia, num clássico em que o pragmatismo do Ferroviário, nomeadamente no decurso do primeiro tempo, acabou fazendo a diferença, através de um estupendo golo de cabeça do ponta-de-lança Luís. Ao Maxaquene, dono e senhor dos acontecimentos na etapa complementar, para além da sorte, faltou a acutilância e a capacidade de aproveitamento dos melhores lances ofensivos, tal como soube fazer, por exemplo, o seu oponente.

Na estreia do novo Estádio do Maxaquene, localizado na mesma Machava que o Ferroviário conhece muito bem, nada melhor que uma partida da estirpe destes dois rivais, em que a combinação do bom e do muito bom esteve sempre presente, apesar do desnecessário concerto, nalgumas ocasiões, do árbitro Estêvão Matsinhe, quebrando desse modo o ritmo alucinante e agradável da contenda.

Actuando com a mesma disposição táctica de 4x4x2, era de adivinhar que a sorte do jogo fosse essencialmente decidida na zona nevrálgica, isto é, do lado onde os homens da intermediária conseguissem ser mais astutos e desequilibrassem os pratos da balança. “A priori”, o Ferroviário desfrutava de alguma vantagem, face à abundância da qualidade neste sector, embora ontem, por exemplo, o carregador de piano Danito Parruque, colocado na ala esquerda, tenha tido uma produção muitos furos abaixo da sua bitola.

EM CENA NOVOS “TIGRES”

Mesmo assim, os campeões nacionais conseguiram brilhar e, neste caso, a inteligência de Paulo Camargo merece a necessária ressalva: o técnico brasileiro, ao invés do habitual, colocou no banco unidades nucleares como Whisky e Maurício, o “homem dos livres”, lançando no onze inicial jovens como Butana, Dário Chissano e Tchaka, qualquer deles a fazer uma partida fenomenal. Na frente atacante, o irrequieto Jerry e o perspicaz Luís obrigavam a defesa maxaquenense a suar às estopinhas, com constantes mudanças de velocidade e de flanco, baralhando assim os opositores.

Bem, muito bem também, a diferença entre “tricolores” e “locomotivas” residia fundamentalmente na atitude dos intermediários. Enquanto uns, os do Ferroviário, eram mais práticos e sobretudo eficientes no auxílio aos colegas da ofensiva, outros, os do Maxaquene, actuavam com alguma morosidade e pouco decididos a sair com o esférico em condições de provocar desequilíbrios na retaguarda contrária. Resultado: Eurico e Hélder Pelembe eram praticamente homens sós perante a preciosidade na combinação entre os centrais Tony e Jotamo, bem acompanhados por Butana e Fred.

Os guarda-redes de ambos os times eram obrigados a uma árdua missão, sobretudo o “tricolor” Soarito. Praticamente em cima do intervalo, o Ferroviário traduz em golo a sua supremacia atacante. O lance é extraordinariamente executado pelo lado direito e com apenas três intervenientes: Tony efectua um passe longo para a corrida de Tchaka, que quase chega à bola ao mesmo tempo que Artur Faria, mas, mais lesto, o “locomotiva” consegue um cruzamento primoroso para um magnífico cabeceamento de Luís, de costas para a baliza, para desespero de Soarito

GRANDE MAXAQUENE!

Liberty

Diferente, completamente diferente, foi a segunda etapa do encontro. A inversão dos papéis foi uma realidade e, aí, o grande Maxaquene efectivamente se mostrou. Quando Litos trocou o veterano e imprescindível Macamito pelo novato Eusébio, terá ficado a sensação de que o treinador português não dispunha de soluções para dar a volta aos acontecimentos. Puro engano! A opção do “mister” foi superiormente conseguida, pois a sua equipa assumiu os cordelinhos do desafio e quase subjugou o adversário.

Com as alas a funcionarem plenamente e um meio-campo mais consistente e uma grande visão ofensiva, através de Eusébio, Jumisse, Kito – que substituiu Artur Faria, lesionado com alguma gravidade no olho e consequentemente levado ao hospital – e arte de Liberty, o Maxaquene assediou a baliza à guarda de Pinto, que efectuou múltiplas defesas de grande categoria.

É verdade que, em determinados momentos, os “tricolores” se deslumbravam devido ao facto de tudo lhes sair a contento e aí acumulavam falhas infantis, mas, na globalidade, tinham o jogo sob o seu comando, só que a penetração na área contrária mostrava-se extremamente difícil. O Ferroviário adoptou a defesa à zona, concentrando todos os seus homens em redor da linha da grande área.

Ora, somente o tecnicismo ou repentinas desmarcações poderiam ludibriar a vigilância montada pelos campeões à volta da sua defesa. Não acontecendo isso, a preferência eram os remates à distância, agora também em acção Hélder Cuinica, mas a encontrar o guarda-redes Pinto numa tarde de grande inspiração.

Reduzidos ao papel defensivo, os “locomotivas” saíam esporadicamente e nem sequer tiveram espaço para aproveitar a manha de Artur Manhiça. Para o Maxaquene, o derradeiro apito do juiz da partida foi um autêntico murro no estômago, pois o cheiro a golo ganhava mais intensidade. Para o Ferroviário, um verdadeiro alívio, face ao suplício a que estavam sujeitos.

Para quê tanto apito desnecessário, senhor Estêvão Matsinhe? Na primeira parte o concerto do árbitro foi bastante incomodativo, mesmo reconhecendo legalidade nalgumas decisões, até porque os “tricolores” foram incompreensivelmente bastante faltosos. Apesar de tudo, no global, o árbitro mais regular do último Moçambola esteve bem.

FICHA DO JOGO

Árbitro: Estêvão Matsinhe, coadjuvado por Célio Mugabe e Arsénio Marrengula. Quarto árbitro: João Armando

MAXAQUENE – Soarito; Mustafá, Campira, Artur Faria (Kito) e Kiki; Narciso, Macamito (Eusébio), Liberty e Jumisse; Eurico e Hélder Pelembe (Hélder Cuinica);

FERROVIÁRIO – Pinto; Butana, Jotamo, Tony e Fred (Zabula); Dário, Tchaka, Momed Hagy e Danito Parruque; Jerry (Joca) e Luís (Artur Manhiça);

Acção disciplinar: cartão amarelo para Artur Faria, Fred e Momed Hagy

Golo: 0-1, Luís, aos 45 minutos.

Alexandre Zandamela