Um Congo de fadas!
A aposta dos congoleses na construção de uma gigantesca montra de marketing político encapotada e camuflada por detrás de um projecto de celebração dos 50 anos dos Jogos Africanos, começa exactamente por deslumbrar os visitantes com as fascinantes e colossais infra-estruturas edificadas para acolher o evento de forma indelével e marcante, bem à medida de um dos mais antigos presidentes africanos ainda em exercício.
No topo da pauta dessas obras, pensadas e executadas pela eminência da já propagada engenharia chinesa, está um viaduto de 22 quilómetros profusamente iluminado que serpenteia sobre o rio que banha Brazzaville, dando acesso a uma grandiosa zona de expansão onde está erguido um faustoso complexo desportivo composto por um estádio coberto, piscinas de igual modo cobertas, pavilhões multi-uso, hotéis, restaurantes e outras infra-estrturas de apoio, para além da Vila Olímpica onde actualmente se encontram alojadas as delegações, com capacidade para 30 mil camas (!!!) e que será reconvertida na Universidade Dennis Sassou N´Guesso.
É por isso que, por estas alturas, os congoleses devem ser o povo mais feliz do mundo, exaltando cegamente os feitos do antigo coronel que subiu ao poder há mais de 37 anos e que agora procura ardentemente retribuir a lealdade e fidelidade do seu povo, mensuráveis por relativa estabilidade política, depois da guerra civil que assolou o país até 1999, com um balanço de mais de 10 mil mortos e um prejuízo material avaliado em 2,5 biliões de dólares.
Votados a relativo isolamento depois de constatada a sua ligação a uma intricada rede de contrabando de diamantes pela vizinha República Democrática do Congo, o país do antigo Presidente Marien Ngoabi procura com estes XI Jogos Africanos aproximar-se do concerto das nações e vender a imagem de um país de democracia estável, por aqui e assim se percebendo o anúncio de novas eleições para o próximo ano, depois de as últimas terem ocorrido em 2007.
Só que a prática tem demonstrado o contrário, bastando ver o aparato militar que rodeia a comitiva do Presidente Dennis Sassou N´Guesso sempre que este se desloca pela cidade, uma escolta reforçada por veículos de combate franceses equipados de armas pesadas, para além da postura um pouco intimidatória dos muitos militares que circulam pela cidade ou que guarnecem os recintos desportivos e a vila onde estão acomodados os atletas.
Porém, em termos de infra-estruturas, de facto, é preciso reconhecer que o presidente decidiu abrir os cordões à bolsa para oferecer um congrego de construções de raiz, quase todas executadas por empreiteiros chineses ou por consórcios sino-congoleses, alimentando a especulação de que as grandes patentes militares estariam a monopolizar os grandes negócios à volta deste empreendimento de Kintélé, local onde se situa o Complexo Desportivo e a Vila Olímpica, uma verdadeira zona de expansão com grandes projectos imobiliários.
De resto, os sinais exteriores de riqueza são indesmentíveis e até visíveis nas intermináveis filas de automóveis topo de gama que circulam pelas apinhadas ruas de Brazzaville, onde se atulham os Mercedes aos últimos Prados e as Land-Cruizer às Nissan, num interminável desfile de vaidades e de pretensa devassidão.
Seja como e o que for, a verdade é que o povo está feliz com o coronel e não consegue esconder a sua felicidade, chegando mesmo a transportar cartazes onde se lê “Merci (obrigado) papa Dennis Sassou N´Guesso”, como se viu na inauguração do Stade de l´Unité, mesmo que depois não se saiba muito bem quem está verdadeiramente a ganhar com todo este Congo de fadas!
Almiro Santos
Fonte:Desafio