TUDO levava a crer que os problemas de violência nos campos de futebol na província de Nampula haviam ficado para a história, em particular no “Nampulense”.
O jogo entre o Benfica de Nampula e o Sporting de Monapo, inserido na 12.ª jornada, serviu apenas mostrar que os problemas permanecem. Assistiu-se a um episódio “amargo”, com o presidente e treinador do clube “encarnado”, Abdul Hanane, a invadir o campo e a incitar os adeptos a agredirem o árbitro do encontro, Maulana Buanamade, que foi forçado a interromper a partida.
Face ao sucedido, a 13.ª jornada foi suspensa, para dar lugar um encontro de reflexão entre os clubes participantes, árbitros e dirigentes da Associação Provincial de Futebol de Nampula (APFN).
O “Notícias” ouviu alguns dirigentes que participaram no encontro e a maioria foi unânime em afirmar que deve ser aplicada mão pesada aos autores destes actos ou até mesmo irradia-los.
O presidente da APFN, Tomás Narciso, afirmou que o encontro entre os fazedores do futebol nampulense, realizado sábado passado, fez uma real avaliação e profunda reflexão sobre os acontecimentos.
“Este encontro serviu para fazer a lavagem de algumas mentes. Alguns árbitros revelaram que alguns dirigentes têm os pressionado a falsear os resultados dos jogos. Foi muito bom termos essa informação, porque passámos a saber quem são”, esclareceu Tomás Narciso que, entretanto, se escusou a revelar os nomes dos dirigentes visados.
Acautelou que a sua instituição tomou nota das denúncias feitas e com tranquilidade vai analisá-las e encaminhar ao Conselho de Disciplina.
“Foram apontados nomes e nós anotámos. O que ficou patente neste encontro é o facto de os participantes terem falado de forma desinibida e franca, sem reticências. Foi uma discussão frontal o que levou que em alguns momentos tornasse algo intempestivo”, observou o presidente da APFN.
Por seu turno o jornalista desportivo da Rádio Moçambique Inocêncio João sublinhou a importância do encontro para a clarificação de algumas situações escondidas.
“Apesar de não terem apresentado provas sobre a alegada corrupção perpetrada por alguns dirigentes, os árbitros apontaram nomes que encomendam resultados a partir de terceiros”, anotou Inocêncio João.
Por seu turno, o presidente do Sporting de Monapo, Momed Amid, mais conhecido por Medinho, disse que o encontro abriu boas perspectivas para aquilo que até ao momento era considerado tabú.
“Os árbitros foram corajosos ao apontar alguns dirigentes que os têm contactado. Há clubes nesta nossa prova que recebem os seus adversários como inimigos o que não pode ser, no caso do Sporting de Nampula e porque não reagiram as acusações ficou claro que assumem a culpa”, atirou Medinho, para quem encontros do género deviam acontecer com regularidade mensal como forma de dissipar algumas zonas de penumbra.
Para o vice-presidente do Clube Ferroviário de Nacala, Gabriel Cossa, a violência que tem ocorrido nos últimos nos campos de futebol é resultado de guerrilhas daquilo que considera de “células” rivais de algumas equipas.
“Aqui em Nacala, sabe-se que existe uma tremenda rivalidade entre as claques do Desportivo e do Ferroviário que mesmo sem estarem a jogar entre si, não faltam rebeldes que provocam pânico durante uma partida em que uma delas esteja a participar seja com que adversário for”, anotou o vice dos “locomotivas” de Nacala-Porto.
No entanto, Gabriel Cossa avançou que a sua Direcção tem levado a cabo um intenso trabalho de sensibilização aos seus associados e simpatizantes no sentido de se absterem de cometerem actos de violência.
“Para evitar confrontos entre as duas partes pedimos aos nossos associados para evitarem estarem na mesma bancada que os do Desportivo. Foi uma medida acertada, pois já não se assistem os confrontos que se registavam anteriormente”, arrematou Cossa.
O presidente do Sporting de Nampula, Victor Sousa, por sua vez, mostrou o seu descontentamento por entender que a reunião tenha sido orquestrada pela APFN e COPAF, em conluio com o Sporting de Monapo, somente para denegrir a imagem da sua colectividade.
“O convite trazia como agenda o balanço do “Nampulense”, mas para o nosso espanto quando o encontro iniciou, fomos bombardeados vindo de todos os cantos a acusarem o Sporting e Benfica de Nampula de serem os protagonistas de tentativas de subornos aos árbitros”, frisou aborrecido.
Acrescentou que ao contrário daquilo que os intervenientes pretenderam passar à opinião pública, a sua colectividade foi primeira a denunciar alguns actos que foi reportando com cartas denúncia enviadas a APFN, com conhecimento da FMF, CNAF e o Governo Provincial.
“Na sequência das nossas denúncias alguns árbitros foram penalizados por se provar que cometeram graves erros que prejudicaram o Sporting de Nampula e faltaram a verdade desportiva falseando resultados dos jogos e, por isso, não nos surpreende a revolta dos árbitros sobre nós”, explicou Víctor Sousa.
Disse, por outro lado, que os árbitros que apareceram na circunstância a acusarem o Sporting e o Benfica, ambos da cidade de Nampula, não apresentaram uma prova se quer para dar evidências as suas acusações.
“No encontro, cuja agenda era balanço do Nampulense, estavam presentes 18 árbitros e apenas quatro clubes com direito a duas pessoas de cada colectividade. É óbvio que tudo foi orquestrado e não se analisou o verdadeiro motivo da violência nos campos de Nampula”, frisou o Presidente do Sporting de Nampula.
ARMA DE FOGO COM UM DIRIGENTE?
Na conversa com o Victor Sousa veio à baila uma revelação que já andava nos bastidores. O presidente do Sporting de Nampula revelou que o seu homólogo de Monapo estava armado no jogo com o Benfica.
“Toda a gente viu e nós temos imagens do presidente do Sporting de Monapo exibindo a sua pistola no momento em que o público invadiu o campo tentando agredir o árbitro. É estranho que ninguém tenha reportado isso e o assunto não foi chamado à discussão na tal reunião. Veja-se o perigo. Até temos pessoas civis armadas dentro do estádio…”, revelou.Sousa diz que as imagens estão a circular na internet mas que ninguém de direito se dignou até a presente data a pôr a mão ao guizo.
LUÍS NORBERTO
Fonte:Jornal Noticias